Moderação

Bem fez quem sondando comparou-o a distúrbio ou doença
Tal é a moléstia que pela fresta da alma incauta atravessa
Atentando aos sintomas se pode entender o estágio de evolução
A primeira medida é saber se a alma perdida vive de alucinação
Se a garganta ofegante e já seca não pensa nas coisas que diz
Se com a cabeça apertada arrebatada ao longe se crê mais feliz
Se indo de encontro ao agente apresenta estranha exaltação
E na confusão, somando um borrão ao andar parece voar pelo chão
Se com o pulso surdo e oscilante o ar é retido e o peito oprimido
Já demente a mente insistente provoca zunido no fundo do ouvido
Cautela pede a bizarra situação sem solução nem remédio eficaz
Antes que o coração solando compasso sinistro o passe pra trás
Se assim suceder, necessária será a extração da perigosa afecção
Segue-se então à incisão longo e penoso processo de cicatrização.

AB

6 pensamentos sobre “Moderação

  1. Vim aqui ver quem era a nova seguidora do meu blog e preciso dizer: adorei o jeito que você escreve! Você fez/faz algum curso? Escreve profissionalmente ou apenas por hobby? Parece que as palavras me envolvem, sinto como se alguém estivesse recitando pra mim, como se minha mente lesse com outra voz. Quando lançar um livro com tantas poesias bonitas e reflexivas, pode avisar que serei a primeira a comprar. Parabéns!

    • Beatriz, seu blog é uma fofura. O curso de letras faz parte de minhas formações, apesar de ainda incompleto. Mas acho que em matéria de criação somos sempre aprendizes experimentadores. Fico muito feliz que você tenha gostado! Avisarei quando houver o livro 🙂

  2. Não sei exprimir o que sinto ao ler Moderação. Sou leitor bissexto de poesias, mas seus textos parecem espelhar o que sinto, e incomodam! Para mim a função da poesia é essa – tirar a gente do sério, do lugar, do espaço. Voce parece conseguir isso com uma facilidade estranha, mas sinto que cada palavra é medida, pesada. Será que estou me perdendo?

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