Uno

Te caço em todo canto
te caço sob pranto
debaixo de tanto manto
mas pra ser sincera
mesmo com tanta espera
a imagem da tua luz
mesmo sob esse capuz
vai além de toda cruz
nem carece tanta prece
ou faz falta muita história
pra falar dessa tua glória
todo tempo na memória
aquecendo minha vida
o tempo todo vida afora

AB

Ferrugem

À flor da pele transborda
exalo-o agora e toda hora
pelos nervos meus aflora

muitas coisas se passaram
outras tantas se demoram
algo é certo nesta história
se emaranha na memória
que me corre veia afora

não esqueço um só instante
não demore com o restante
pois sequelas já me surgem
como ao ferro a ferrugem
que se forma ao relento
do meu ser em desalento

AB

Desvelo

Olhos sem superfície nem reflexão
nus da planície que de tudo te esconde
não vejo teus olhos te olho na fonte
do ser que nos funde e com fogo responde
quando foi te despojaste da membrana
que cobre a alma e outra alma engana
forçando-me ao êxtase do salto profundo
num mundo de chamas de vida fecundo
onde encontro a paz do eterno nirvana

AB

DNA

Alastrado sob a pele como vida
Extirpá-lo tentei, inutilmente:
Raiz não concreta, da mais resistente
Matéria densa se mistura e se estranha
Mas essência ao misturar-se, se emaranha
Se nega ou afirma pouco se dá
Consigo presente sigo igualmente:
Corre-me no sangue alterado e pela veia
Onde me flui a vida e seu DNA passeia.
Sob o céu todos são afeiçoáveis
E num comum movimento inverso
Adentram-nos e se tornam confiáveis
Erigindo castelo de alicerce duvidoso
Onde almas se acorrentam incompatíveis
Ao invés de expandirem-se no venturoso:
Razão real do amor todo-poderoso.
Se nega ou afirma pouco se dá
Consigo corrente na veia igualmente:
Não mais embrionária, vegetativa ou dormente
Trago a alma de vida insuflada ainda que ausente.

AB