Labaredas

Seremos punidos um dia
por toda essa vida perdida
seremos queimados um dia
por toda essa letargia
de quem se crê no carrinho
de quem encontrou o caminho
de quem nega o presente
queimando no fruto a semente
daquilo mais puro que sente
Não há de ser o inimigo
a queimar-nos fundo no ouvido
labaredas no labirinto
mas a bile do próprio fígado
amargo por gritos e aflito
da inconsciência com o dia já ido
de amor em branco
de coração partido
Já somos punidos agora
por deixar a vida ir embora
presos por algum alheio conceito
deixamos do amor passar o perfeito
que nos nasce aflora direto
do peito e não da ideia qualquer
de um qualquer outro sujeito
Que a vida se faça no instante
do nosso coração pulsante
antes que não haja mais a luz
que conduz com seu lume berrante
a alma que se insiste e demora errante

AB

Rédeas

Acreditei na mentira contada
Todos tão grandes e eu…
Acre, editei uma vida errante
Em terreno viscoso de frio escaldante

Quero de volta o bilhete comprado
O ingresso frustrado desse espetáculo particular
Quero andar pela areia firme
Sem esperar o sublime que alguém possa me dar

Coadjuvante, agora quase falante
Te restituo a mentira e minha coautoria
À mentira que é tua eu canto

Reclamo-te sim com meu berrante
Entoo por mim e a própria existência
Das cinzas, a sós, aos farrapos levanto

AB