Vive ainda no mundo que penso
vive fluido no pulso do ensejo
é a quem devo o rumo e o trecho
da vida na qual agora me vejo
AB
“marble”, digital art over acrylic on paper, 2016
Vive ainda no mundo que penso
vive fluido no pulso do ensejo
é a quem devo o rumo e o trecho
da vida na qual agora me vejo
AB
“marble”, digital art over acrylic on paper, 2016
Olhos nos olhos não vejo
sinto é na vista cansada
o gosto de longe do beijo
na alma em parte amarrada
atada pra fora do peito
Olhos nos olhos não vejo
sinto é no peso do dia
o gosto ausente do beijo
na alma em parte já fria
pendida pra fora do peito
AB
[Knot
Eye to eye peep we won’t cast
In my eyestrain I savour
your faraway kiss flavour
in this yet partly fasten soul
hanging outside the breast
Eye to eye peep we won’t cast
In the day burden I savour
your absent kiss flavour
in this yet partly cold soul
pending outside the chest]
Voltar atrás
fazer voltar o tempo
tento e detento
sinto o peito
bate lento
estreito
volta tempo
traz o peito
volta ao leito
ao relento
volta atrás
traz de volta
para tudo
nessa volta
bate lento
estreito
e para!
não me deixe ir embora…
AB
[To go back
to turn back time
I try and as a prisoner
is my heart
beating slow
narrow
go back time!
bring the chest
back to bed
the dew
please go back!
bring it again
freezing all there
beating slow
narrow
and stop!
do not let me go…
Vida segue sua lida
bom que vá desmedida
o partido em ferida
recupera em nova vinda
quem haveria de saber
o sabor da tortura finda
presença que revigora
fundo dentro e tudo fora
quem haveria de saber, querido
aventura que explora
fundo dentro e tudo fora
que o peito aguente hora a hora
já que cresce como flora
coração que expande em mola
retorne jamais de agora
ao tamanho necrosado pela
dor que encolhe tudo embora
AB
recovery 2, oil on canvas. 2016
Caro espectador
dos lamentos inflamados
infortúnios embalados
pelos tormentos dessa dor
te acomodas aí sentado
náufrago em tristezas
lendo vísceras vertidas
de um coração sofredor
me espanta a indiferença
estampada em tua presença
algumas vezes acometida
nessa mente sem clemência
quanto tempo será preciso
para ver-te em teu juízo
de igual pobre desertor
de teus dias de alegria
junto a mim em harmonia
sob bençãos de amor
AB
Péssimo pensar onde errei
olho pra trás névoa que ofusca
impede a visão que te busca
a razão leva e traz como lei
sensação tão sem conforto
do caos total tudo torto
vejo partes do já ido
escolhidas pela porção
mais inconsciente da minha
própria percepção que te busca
trás névoa que ofusca
caminhos de vida em linha
reta torta sempre brusca
encontram nunca a solução
pra entender onde do erro
vasculho toda a mente
esperança sempre presente
de encontrar semente choca
de tua planta seca e ausente
o vácuo do pensamento segue
vento em busca do elemento
em meio a tanto resíduo
tóxico de tanto sentimento
cada fluxo de ideia não se
perfaz não há linha reta
torta sempre se termina
incapaz impossível encontrar
um motivo consistente que
se renda culpado pelo rumo
dessa vida.
AB
andromache. digital over oil on canvas. 2016
Te caço em todo canto
te caço sob pranto
debaixo de tanto manto
mas pra ser sincera
mesmo com tanta espera
a imagem da tua luz
mesmo sob esse capuz
vai além de toda cruz
nem carece tanta prece
ou faz falta muita história
pra falar dessa tua glória
todo tempo na memória
aquecendo minha vida
o tempo todo vida afora
AB
Sinto o caco no peito
o coração estilhaçado e desfeito
revela o dano perfeito
espinhos cravados no órgão eleito
que passem as horas e os dias
e o tempo refaça a alegria
que move e semeia o ser
no lugar dessa funda agonia
que a vida possa seguir
e que traga de volta quem há
de ficar e leve consigo quem há
de partir e que a mente demente
deixe o valente coração no lugar
pulsando pela vida e o sangue
ao invés de tentar fazê-lo ruir
AB
The cool pale complexion can no longer bear
these flying hours that find no way through despair
for the being that at it’s most chaste limit
feels the mind oozing from seed to budding plant
through her infertile womb of love deprived sand
like persistent seedling grows in these mud
soaked in tenderness and omnipresent love
and the permanent cry streams in a flow
the more you reveal yourself the higher I go
the wanting grows and from seedling savage beast
condemned to run till rupestrian exasperation
aloof and indomitable snatching the vastness of this
succumbed to the heart poor mind in devastation
AB
sucumbência, acrylic and ink on paper over wood. 2014
Original em Português:
https://alessandrabarbierato.wordpress.com/2014/12/22/sucumbencia-acrylic-and-ink-on-paper-2014/
I miss you everyday and hour
through the path I go without
your light or a single flower
although my broken highest desire
there is not a trace of sadness
for I know you’re there somewhere
with your smile and tenderness
and there is a spot where my soul
can reach yours in your wholeness
AB
wholeness, acrylic on paper. 22.11.2015
Houve um tempo havia o orvalho
e ele se fazia sentir por inteiro
mas a vida acontece e seu enredo
alastrado feito raiz de carvalho
desdobra o sentido sentido primeiro
e com o tempo o orvalho passageiro
já não se faz sentir tão certeiro
sobra apenas sombra em nevoeiro
atolada em tormenta de engano ledo
torta se torna foco a arquitetura
deslumbrante de mente em tortura
que tudo o que vê não sente pura e
simplesmente mas passa por neblina
escura e dura de coração com atadura
que já não se apercebe logo à frente
nem um palmo sequer sem que a mente
regente viciada em criação demente
divague em verdade oca de amargura
AB
Seremos punidos um dia
por toda essa vida perdida
seremos queimados um dia
por toda essa letargia
de quem se crê no carrinho
de quem encontrou o caminho
de quem nega o presente
queimando no fruto a semente
daquilo mais puro que sente
Não há de ser o inimigo
a queimar-nos fundo no ouvido
labaredas no labirinto
mas a bile do próprio fígado
amargo por gritos e aflito
da inconsciência com o dia já ido
de amor em branco
de coração partido
Já somos punidos agora
por deixar a vida ir embora
presos por algum alheio conceito
deixamos do amor passar o perfeito
que nos nasce aflora direto
do peito e não da ideia qualquer
de um qualquer outro sujeito
Que a vida se faça no instante
do nosso coração pulsante
antes que não haja mais a luz
que conduz com seu lume berrante
a alma que se insiste e demora errante
AB
À flor da pele transborda
exalo-o agora e toda hora
pelos nervos meus aflora
muitas coisas se passaram
outras tantas se demoram
algo é certo nesta história
se emaranha na memória
que me corre veia afora
não esqueço um só instante
não demore com o restante
pois sequelas já me surgem
como ao ferro a ferrugem
que se forma ao relento
do meu ser em desalento
AB
Queria ver-te agora dormindo o sono
dos justos que te cabe e assegurar-me se
sonhas comigo como contigo passo
a noite varada virada em abrigo seguro
mundo encantado onde existo a embalar-te
os passos pesados das horas vividas
dos olhos cansados da vida tolhida
cianos do norte gelado e longínquo
ainda assim o calor lhes escapa impulsivo
desejo inflamado do azul ao carmim
aturde e transborda seu âmbar em mim
ver-te em sonho ilumina toda uma vida
com o sol boreal de tua aurora aquecida
reluzindo sobre a alma em sombra jazida
AB
O coração parece parar ao menor
pulso insano insensato que teu nome faz
calar no silêncio do pensamento que
te trás como avalanche que me inunda
feito fluxo por tal impulso desmedido
da lembrança do mais belo sol sorriso
imagino a vida em torpor de paraíso
onde o astro-rei se levanta enciumado
fumegando em labaredas sem juízo
para ver de onde vem tal alma reluzente
que inebria e se faz presente pelo brilho
desse riso entorpecente capaz de ofuscar
sem pudor a mais intensa chama de calor
AB
Sweet angel of peace
from far away you are
and far away you’ve been
the space doesn’t seem
to change a thing it only
makes the truth increase
the time doesn’t seem
to bother either since
I know the more it goes
stronger grows the seed
that floods our hearts
within from the very deep
Sweet angel of light
far but always by my side
everywhere I go I just
strongly feel you deep inside
no matter how I try
to talk you out of my mind
for ages I’ve tried to hide
this finest shade of light
that just despite overflows
so bright to the outside
AB
Quero essa vida de dentro pra fora
fosse ou não fosse chegada a hora
quero que seja pra sempre agora
ainda que embora não saiba dizer
Disse o que pude dada a demora
de tudo o que passa e do por fazer
Queria que toda alegria do mundo
trouxesse pra junto fosse onde
fosse pra acontecer
Que seja dito o que não pude dizer
Que seja feito o que não pude fazer
porque no momento errado aflora
o que certamente era pra ser
Desisto por hora o que outrora
ninguém e nem nada há de deter
AB
figura, oil on canvas. 2004
tentei despistar, tentei desfazer
tentei encontrar outra história
e viver
mas a vida tropeça na mente
que se arrasta de costas pra frente
sem poder perceber o abismo
que se abre por dentro da gente
e a ilusão que se forma dia-a-dia
agarramos com grande alegria
sem prever a fumaça que esfria
entre os dedos vazios de agonia
AB
Pois não vejo justiça na teia
que se arma inteiriça e ateia
presa que imóvel torna-se ceia
mas vale saltar-lhe na veia
ser de vida quebrada já meia
de quem a paz atormenta a alheia
liberta-se da mente cadeia
agitada que a todos odeia
e mesmo débil de dor anseia
calar aquele que a luz permeia
AB
“figura”, oil on canvas. 2005
Que ontem fosse pra sempre
mal não faria afinal a ausência
incerta que sobra grita aflita
seu nome que ecoa na fonte
da alma pulsante que ele agita
que incerta vagueia sem meta
aturdida mirando ao longe
figura cada vez mais querida
tateia vendada o caminho com
olhos voltados pra dentro do
peito lotado vertendo carinho
querendo que ontem não fosse
só dia virasse um longo passeio
AB
detalhe de “jardim das alegrias”, acrylic on canvas. 2014
Nunca nada foi tão sublime
os olhos da carne distante
voltados ao cerne no instante
em que vê sua parte alheia
em outra carne a qual permeia
não há tato troca nem gosto
da carne não há combustão
do prazer da presença nada
quase senão instantes apenas
inflados de vida e o torpor do
amor mais intenso que existe
e a certeza selada por olhos do
toque invisível entre almas
habitantes do escuro da vida
onde de nada se necessita
habitantes de terra sem chão
onde não há moeda de troca
terra firme fecunda longínqua
reino prá lá da outra dimensão
AB
“mar”, acrylic and marble dust on canvas. 2006.
Quero que o cerco do seu mar
feche sobre mim e esse azul
inunde-me a vida com a sua e
refaça-me em plena alegria
Quero que o cerco do seu ar
feche sobre mim tanto azul
e toque-me a pele da alma
com o frescor que tudo resfria
Quero que o cerco do seu fogo
arda sobre mim com seu azul e
tinja a tinta cinza da vida
de olhos de quem antes não via
AB
“east road”, acrylic on canvas, 57×45. 2013
Que o silêncio ensurdeça quem
o coração calou com peso de
sua vida sem norte ao precipício
que a boca se apodreça pela seca
que causou onde a vida se fazia
intensa e por muito pouco rejeitou
que a medida dessa consciência
baste e que siga o beco que pegou.
AB
“cimo”, oil on canvas. 2006 Alessandra Barbierato
Objeto que assombra e também
atormenta o silêncio da mente
que espera o momento clemente
de fundir se pensando aquém
e assim nesse sono profundo
se mantém sem saber que o assombro
em verdade ele não tem senão
somente reflexo do que além
enxerga no outro o que já tem.
AB
Descobri que todo azul do mundo vem
do norte e banha-me a vida em refrescância
onde me esbaldo em suas ondas geladas
do mais lindo azul revolto em fumegância
Descobri hoje que todo azul do mundo
vem jorrado desses olhos lá do norte…
AB
Me livraste do carma da efemeridade
sem meu objeto e o sujeito incompleto
sigo então galgando rumo ao cume da vida
despertando dia-a-dia talvez a maioria
na certeza de luz plena em busca divina
pois desse fogo que ainda queima em meu peito
tiro sustento e sigo momento-a-momento
na ânsia de um dia vê-la chama consumida
por tarefas importantes rumo à subida e
não abafada por vicissitudes da vida
AB
Olhos sem superfície nem reflexão
nus da planície que de tudo te esconde
não vejo teus olhos te olho na fonte
do ser que nos funde e com fogo responde
quando foi te despojaste da membrana
que cobre a alma e outra alma engana
forçando-me ao êxtase do salto profundo
num mundo de chamas de vida fecundo
onde encontro a paz do eterno nirvana
AB
Confesso: somente um há que me
pode ajudar em tamanho impasse
tremendo tormento desastre que
se me apresenta em constante crescente
como um anjo da guarda vivente
não preciso evocar aos invisíveis
somente essa presença vagando
em minha mente já é suficiente
resolvendo questões das mais difíceis
contra tudo me defende e opina
insistente sobre minhas aflições
no silêncio da alma em seus rasgões
abranda a dor com suavidade
e me protege de toda maldade
agradeço-lhe em tom insistente
a existência desse amor em essência
que me obriga a transcender à matéria
me afastando desse mar de demência.
AB
Palavras emancipadas ao vento
do tal raciocínio absente dentre
todas somente seu nome aparece
zunindo crescente sem ecoar
ressoando em assonâncias de prece
lapida as águas revoltas do mar
pois em seu vaivém discrepante mais
vem sem parar de impor seu rubor
que se entrega ao tentar se calar.
AB
A tez pálida e fria já não pode suportar
que as horas voem sem que rumo possa dar
ao ser que em seu limite mais estreme sente
a mente esvaindo-se semente em planta broto
de seu ventre infértil de amor carente
como muda cresce insistente meio ao lodo
encharcado de ternura e amor onipresente
e o choro permanente segue em torrente
quanto mais te mostras mais me embriagas
a falta cresce e de muda animal silvestre
condenado a correr à exasperação rupestre
arisco e indomável arrebatando a vastidão
da mente devastada sucumbida ao coração.
AB
Gostaria de chorar meu ser em vários rios
esvair-me por diferentes águas correntes
dissipar os ardis dessas dores frequentes
para longe arrastando os tormentos do ser
rios que tão caudalosos pudessem verter
por vários dias a fio sem parar de correr
que um escoasse pra fora os dias sem brio
um outro corresse embora os dias sem luz
e que a mente esvaísse do corpo já frio
do incessante sofrer pela carne e a cruz
Para Leonard,
AB
A cada dia recomeça a tentativa
de livrar-me desse vício martelo
a estacar-me de maneira aflitiva
encadeando-me a alma elo a elo
pedi ao tempo levasse para longe
a memória que recuso a revirar
mas retorna insistente no horizonte
e não deixa minha alma descansar
a memória movente se aquieta jamais
fecho fundos olhos breu luto pela paz
mas o pensamento já não se perfaz
sem ti que nele te moves e és a luz
como lente frente a tudo te prevejo
recorro ao que tenho e rendo ao ensejo
a memória contato que em tato dissolve
o meio-abraço quase apertado o beijo
suas mãos suave suporte que envolve
por dentro e por fora és tudo que vejo
se dentre o universo pudesse escolher
somente uma dádiva estaria em questão
tornaria concretas memória e imaginação.
AB
Deuses e demônios cruzaram-me o horizonte
qual meditativa verdade então instaurada
dali me ficou proferida a função dessa fonte:
passar noite e dia na companhia da realidade
Tarefa mais árdua que essa não há, primeiro
por vezes tentei disfarçando, tais seres driblar
Depois em segredo comigo pensei infalível:
“não vejo, não falo ou escuto: não preciso lidar”
Acreditei ser possível tornar-me invisível
passando impassível por qualquer lugar
Quem me haverá de forçar ao intangível?
Por fim, disfarçado de tigre ardiloso e sagaz
veio a mim já exausto o engano me pondo a par
“Menina, fazer-te de sonsa é apenas fugaz
em solo arenoso quanto mais cresce a planta
mais árdua ainda é a tarefa de não afundar.”
AB
Bem fez quem sondando comparou-o a distúrbio ou doença
Tal é a moléstia que pela fresta da alma incauta atravessa
Atentando aos sintomas se pode entender o estágio de evolução
A primeira medida é saber se a alma perdida vive de alucinação
Se a garganta ofegante e já seca não pensa nas coisas que diz
Se com a cabeça apertada arrebatada ao longe se crê mais feliz
Se indo de encontro ao agente apresenta estranha exaltação
E na confusão, somando um borrão ao andar parece voar pelo chão
Se com o pulso surdo e oscilante o ar é retido e o peito oprimido
Já demente a mente insistente provoca zunido no fundo do ouvido
Cautela pede a bizarra situação sem solução nem remédio eficaz
Antes que o coração solando compasso sinistro o passe pra trás
Se assim suceder, necessária será a extração da perigosa afecção
Segue-se então à incisão longo e penoso processo de cicatrização.
AB
Alastrado sob a pele como vida
Extirpá-lo tentei, inutilmente:
Raiz não concreta, da mais resistente
Matéria densa se mistura e se estranha
Mas essência ao misturar-se, se emaranha
Se nega ou afirma pouco se dá
Consigo presente sigo igualmente:
Corre-me no sangue alterado e pela veia
Onde me flui a vida e seu DNA passeia.
Sob o céu todos são afeiçoáveis
E num comum movimento inverso
Adentram-nos e se tornam confiáveis
Erigindo castelo de alicerce duvidoso
Onde almas se acorrentam incompatíveis
Ao invés de expandirem-se no venturoso:
Razão real do amor todo-poderoso.
Se nega ou afirma pouco se dá
Consigo corrente na veia igualmente:
Não mais embrionária, vegetativa ou dormente
Trago a alma de vida insuflada ainda que ausente.
AB