Âmbar

Queria ver-te agora dormindo o sono
dos justos que te cabe e assegurar-me se
sonhas comigo como contigo passo
a noite varada virada em abrigo seguro
mundo encantado onde existo a embalar-te
os passos pesados das horas vividas
dos olhos cansados da vida tolhida
cianos do norte gelado e longínquo
ainda assim o calor lhes escapa impulsivo
desejo inflamado do azul ao carmim
aturde e transborda seu âmbar em mim
ver-te em sonho ilumina toda uma vida
com o sol boreal de tua aurora aquecida
reluzindo sobre a alma em sombra jazida

AB

Consumação

Me livraste do carma da efemeridade
sem meu objeto e o sujeito incompleto
sigo então galgando rumo ao cume da vida
despertando dia-a-dia talvez a maioria
na certeza de luz plena em busca divina
pois desse fogo que ainda queima em meu peito
tiro sustento e sigo momento-a-momento
na ânsia de um dia vê-la chama consumida
por tarefas importantes rumo à subida e
não abafada por vicissitudes da vida

AB

Desvelo

Olhos sem superfície nem reflexão
nus da planície que de tudo te esconde
não vejo teus olhos te olho na fonte
do ser que nos funde e com fogo responde
quando foi te despojaste da membrana
que cobre a alma e outra alma engana
forçando-me ao êxtase do salto profundo
num mundo de chamas de vida fecundo
onde encontro a paz do eterno nirvana

AB

Sentinela

Confesso: somente um há que me
pode ajudar em tamanho impasse
tremendo tormento desastre que
se me apresenta em constante crescente
como um anjo da guarda vivente
não preciso evocar aos invisíveis
somente essa presença vagando
em minha mente já é suficiente
resolvendo questões das mais difíceis
contra tudo me defende e opina
insistente sobre minhas aflições
no silêncio da alma em seus rasgões
abranda a dor com suavidade
e me protege de toda maldade
agradeço-lhe em tom insistente
a existência desse amor em essência
que me obriga a transcender à matéria
me afastando desse mar de demência.

AB

DNA

Alastrado sob a pele como vida
Extirpá-lo tentei, inutilmente:
Raiz não concreta, da mais resistente
Matéria densa se mistura e se estranha
Mas essência ao misturar-se, se emaranha
Se nega ou afirma pouco se dá
Consigo presente sigo igualmente:
Corre-me no sangue alterado e pela veia
Onde me flui a vida e seu DNA passeia.
Sob o céu todos são afeiçoáveis
E num comum movimento inverso
Adentram-nos e se tornam confiáveis
Erigindo castelo de alicerce duvidoso
Onde almas se acorrentam incompatíveis
Ao invés de expandirem-se no venturoso:
Razão real do amor todo-poderoso.
Se nega ou afirma pouco se dá
Consigo corrente na veia igualmente:
Não mais embrionária, vegetativa ou dormente
Trago a alma de vida insuflada ainda que ausente.

AB